
A dança, a música ou qualquer outro aspecto de cultura, não se pode apresentar numa forma definitiva, pois os termos culturais, eruditos e tradicionais, são pressionados por uma constante consequência da verdadeira dinâmica social onde se desenvolvem.
Eles não podem deixar de obedecer aos fenómenos do seu tempo, devendo ter sempre a verdadeira expressão que pode traduzir a personalidade, as características do seu solo, o clima, a zona geográfica e o produto da comunidade que a recebeu e a recriou a seu gosto.
Diz o folclorista Jorge Dias “ o povo canta aquilo que ouve cantar e apodera-se, imediatamente, do que chega de novo e lhe dá fala à alma”.
O folclore, no dizer de Alves Redol “é a retenção de tudo o que o povo conserva do passado e cria no presente, dando este as tradições de amanha, num enquadramento que afirmara a presença constante da inventiva popular e do seu espírito criativo”.
Dada a sua situação geográfica, no coração de Ribatejo, e pelo facto de possuir uma agricultura desenvolvida, com larga predominância para a vinha, Almeirim, por falta de mão-de-obra local suficiente, recebia, todos os anos, trabalhadores vindos de outras regiões de Portugal, nomeadamente da Beira Baixa, Beira Litoral e Alentejo.
A vinda desses trabalhadores até nós, em períodos de ponta, provocou, naturalmente, o aparecimento de danças e musicas que foram, pouco a pouco, ficando integradas no espírito das gentes de outras origens e possuidores de outros hábitos, facilitaram o intercâmbio, por via popular, de outros tipos de cultura.
Por outro lado, não nos podemos alhear, também, da influência de factores de ordem estrangeira no campo da música e da dança que foram divulgados por grupos musicais, filarmónicas, tocadores de bailes que, através da sua acção de músicos ambulantes, com as suas interpretações, deixaram ficar a semente de novas melodias populares que, conhecidas nas cidades e lugares maiores, passaram para as zonas rurais, onde lhes foram integradas todas as características campesinas.
Por exemplo, a polca deu origem às modas de roda; da valsa alemã derivaram muitos viras, a mazurca, em cujos compassos assenta tradicional moda a dois passos, etc.
Almeirim fica situada na planície batida pelo sol forte, em pleno vale do Tejo.
As suas danças são rápidas, vivas e vigorosas de acordo com o temperamento das gentes da borda d` água, mas no entanto, não perde a melodia que lhe vem do contacto com o Tejo, de cujas margens irradia a frescura e o ritmo das águas a deslizarem para o mar.
A dança é uma forma de expressão popular em que está retratada a identidade de um povo, tal como os trajos, as musicas, a maneira de dançar, levantando os braços ao ar “como arcos de arraial”, ou simplesmente para dançar o fandango, fincando os polegares nas cavas do colete e marcando apenas com as pernas, num jeito peculiar, as peças de inspiração.
A identidade dos povos não se pode dissociar das primeiras reacções criativas do homem. O ritmo que imprimiu ao seu primeiro gesto, quando descobriu a mão e se fez a ele próprio, dando-lhe a capacidade de produzir e realizar.
Fazendo um percurso à volta do mundo com a imaginação e pelo que nos tem sido dado observar através dos modernos meios de informação audiovisual, verifica-se que a dança, a linguagem, os próprios ritmos continuam firmemente a merecer o amor de quem os pratica e luta pela conservação da sua identidade, mesmo correndo o perigo das formas de cultura que, todos os dias, invade e se infiltra nas sociedades actuais.
Sem comentários:
Enviar um comentário