quinta-feira, 3 de junho de 2010

Exposição

Ao longo deste ano lectivo investigamos Almeirim no tempo dos nossos avós e bisavós nada melhor que recriamos uma casa típica. Deixamos agora aqui as fotografias da nossa casa típica e os sinceros agradecimentos a Professora Fernanda Barata, ao Professor Miguel Azevedo e ao Padre Ricardo Mónica.











O Traje

O TRAJE EM ALMEIRIM NO 1º QUARTEL DO SÉCULO XX

O traje em Almeirim

O traje que mais caracteriza todo o concelho de Almeirim talvez não seja traje que foi mais utilizado no primeiro quartel do séc. XX mas o sim o que foi eleito para representar a região da planície do Ribatejo na altura do Estado Novo. É preciso ter as devidas atenções quando nos referimos ao traje de Almeirim como mulheres de saia vermelha e homens da camisa branca com calças e colete preto. Seria redutor e pobre caracterizar o traje de Almeirim simplesmente com estas particularidades. A diversidade do traje de Almeirim é de uma riqueza inestimável e de uma beleza singular.

O TRAJE DE FESTA OU TRAJE DOMINGUEIRO


O TRAJE DA MULHER

O traje da mulher de Almeirim é composto pela saia de castorina vermelha plissada com favos de mel a partir do cós até uma altura sensivelmente de 15cm donde nascem as pregas todas juntas formando o tipo de um harmónio.

Em pesquisas realizadas verifica-se que não existiam só as saias vermelhas plissadas, fazem parte as saias castanhas, azuis escuras, azuis petróleo, verdes, cor de tijolo e cremes. Algumas delas, tais como as vermelhas, são marcadas a todo o comprimento com uma risca de cor contrastante. As saias vermelhas são riscadas a preto, as saias castanhas riscadas a creme, as outras são de tecido liso sem risco vertical.

Os casacos (blusa) todos têm a característica do “rabo de bacalhau” em que a parte de trás apresenta um rabo plissado com pregas miudinhas onde assenta o laço do avental. Os tecidos são claros na medida em que são casacos utilizados em dias de festa e têm como padrão flores, bolas, desenhos geométricos entre outros. Sobre o casaco a mulher de Almeirim ostenta um lenço de caxemira com padrões de fantasia onde as flores estão presentes. Estes lenços das costas tinham a função de cobrir o contorno dos seios das mulheres elegantes de modo a não despertar no homem o desejo e a atracão.

Os aventais também sempre em tons claros podiam ser bordados com motivos florais, velutas, arabescos ou laços, ou então decorados com rendas de algodão com diversos feitios. Também com motivos florais são os lenços da cabeça. Os lenços de boal de em amarelo, verde seco, castanho ou brancos eram bordados com cercaduras com motivos florais os de modo geométrico a linha de seda fina. As meias da mulher de Almeirim eram feitas com linha de algodão trabalhadas com 5 agulhas e com a particularidade das carrapetas, pequenos feitios feitos no cano da meia.

O uso da chinela vareira, característica do traje feminino de Almeirim, surge pelas mãos das comunidades vareiras instaladas ao longo do rio Tejo e da vala Real. A mulher de Almeirim assumiu este tipo de calçado como seu e depressa todas as mulheres tinham uma “chinelinha do Porto” calçado fino do dia de festa. Como adornos utilizava a algibeira decorada com pedacinhos de tecido e de veludos onde colocavam objectos pessoais. Se a ocasião era de festa ostentavam u o cordão de ouro de malha barroca ou malha batida com três voltas ao pescoço adornado com medalhas encrostadas em aros de ouro trabalhados. Vulgarmente se usavam as libras de ouro ou as medalhas prussianas. Os brincos eram sempre pendentes de ouro decorados com algumas pedras de cor ou de esmalte sendo os mais comuns os brincos de folha de oliveira, brincos de rabo de bacalhau, brincos de roca, brincos de cabaça, entre outros. As argolas chinesas, de leque ou de espelho conforme queiramos designar também eram comuns. Menos comuns eram as argolas de volta perfeita ou simples pois estas eram mais usuais no dia a dia.

Para abafo eram utilizados os xailes de “foca” com cadinhos compridos onde se destacam os azuis, castanhos e verdes, ou ainda os xailes de adamascado com cadilhos tecidos do próprio tecido ou com fitilho da mesma cor do xaile.

O TRAJE DO HOMEM

O traje do homem é mais simples do que o da mulher e pouco varia em relação ao traje de festa, ao traje do dia a dia, e mesmo ao traje de campo. Normalmente o que varia é a qualidade e a cor dos tecidos da sua confecção.

O homem em dia de festa veste sempre calça à boca de sino assentando a plaina da calça sobre o sapato preto ou de carneira atados com pala sobre o peito do pé. A camisa com nervuras ou aplicação de fita bordada sobre o peitilho ou de folhos fininhos sobre a carcela, geralmente são brancas ou de cores claras. O colete decotado em bico ou redondo são os mais comuns embora em diversa recolhas se tenham encontrado coletes traçados com duas filas de botões aconchegavam a camisa ao corpo. As costas dos coletes eram de cetim escuro ou de cor mais idêntica à cor do fato. A jaqueta era outra peça comum no traje de festa. Tanto quanto possível deveria ser do mesmo tecido e cor das calças e do colete embora se encontrem diversos trajes com jaquetas diferentes das calças e dos coletes pois estas eram as peças que tinham mais durabilidade. As jaquetas mais finas era debruadas a fita de veludo ou de gorgorão com alamares trabalhados e com algumas aplicações sobres os bolsos e os cotovelos de modo a preservar melhor a peça. Para se sentirem mais aconchegados usavam-se as cintas de merino pretas com franja de fitilho ou lã trabalhadas com uma ponta de fora a acompanhar a perna.

Sobre a cabeça, mediante a condição social surgia o chapéu de aba, conhecido com chapéu à portuguesa ou à mazantina caso fossem de uma família abastada, os mais pobres usavam barrete, quase sempre pretos com borla e barra preta embora se conheçam barretes verdes de barra vermelha e borla verde usados pelos mais jovens.

Os adornos não eram muitos embora a corrente de ouro com o relógio de bolso fosse comum nos trajes mais ricos.

Como abafo surgiam as tradicionais samarras com gola de pele de raposa ou de ovelha e as capas compridas com romeira.

OUTROS TRAJES DOMINGUEIROS

Especialmente na mulher encontram-se uma grande diversidade de trajes domingueiros ou trajes de meia-senhora e mesmo trajes de noiva.

Caracterizados pelas saias compridas de fazenda de lã das mais diversas cores, até ao tornozelo, franzidas, guarnecidas com fitas de veludo ou fitas de seda ou fitas de outros tecidos com meias de renda fina branca ou meias de mousse (meias 1111) sapatos pretos de botão ou de fivela. Os lenços da cabeça já não são peça essencial no traje feminino pois os que são usados são de seda lavrada de cor clara. Quem não usa lenço ostenta um carrapito feito de traça de cabelo ou de rolo. Quanto maior for o carrapito maior é a beleza da mulher.

As capas compridas com 6,5m de roda são comuns nestes trajes dando-lhes uma visibilidade muito grande. Utilizam sempre um saco de mão decorado com feitios de costura e rendas para os haveres e objectos pessoais decorados. Usava-se todo o ouro que se tinha como sinal de poderio económico e de condição social elevada.

Muito mais se poderia explanar sobre a diversidade do traje domingueiro da mulher e da riqueza que eles encerram.


O TRAJE DE IR À VILA

O TRAJE DE MULHER

O traje de ir à Vila ou de ir para o trabalho é todo muito idêntico na mulher. As cores mais sóbrias e escuras marcam o dia a dia.

As saias são de algodão conhecido por “riscado” pois apresentam riscos em toda a altura do tecido, são franzidas no cós e com pouca roda. Sobre a saia surge o avental normalmente de tecido escuro com alguns efeitos de costura ou aplicações de outro tecido. Os casacos são de rabo de bacalhau e de padrões mais escuros e mais cheios. O lenço da cabeça de caxemira também é escuro. As pernas são tapadas ou com meias de lã ou com canos deixando os pés desnudados para trabalharem descalças. Os tamancos de pau de laranjeira, pela facilidade de talhar a base, são de couro escuro. A algibeira lateral é mais escura muitas vezes mesmo preta e não tem a função decorativa mas a função de guardar haveres e pertences.

O xaile de abafo é forte, conhecido como xaile dos Pirenéus ou manta. Muitas vezes o xaile é substituído por saias das costas ou saias de acapar. São saias de fazenda muito forte e riscadas. As saias são normais iguais a quaisquer outras juntando o cós com uma costura fazendo uma meia saia e coloca-se pelas costas.

O TRAJE DO HOMEM

O traje do homem também não varia muito em relação ao traje de domingo. Os tecidos para calças e coletes são mais fortes, mais resistentes e mais escuros. Muito utilizado o cotim oficial e militar de cor cinzenta, as fazendas escuras, o serrubeque, o lagrim, o “zularque”, a saragoça, etc.

As camisas são mais escuras e sem feitios de costura. Utiliza-se o riscado, a flanela, a gorgorina, e o algodão. Têm o “pichel” sobre a barriga que serve para prender a camisa às calças para assim não se apresentarem desfraldados mesmo quando estão na vila ou no campo. As cintas pretas de tear aconchegavam os rins para os esforços. Se não existiam cintas utilizavam-se os suspensórios de elástico.

Na cabeça o barrete preto de borla e barra preta era o mais comum embora as boinas espanholas ou boinas galegas surgissem nesta altura e os bonés de cotim ou fazenda forrados a juta grossa.

O calçado era um calçado resistente, botas de carneira atadas ou fechadas ou sapatos de pala com salto prateleira.

Pe. Ricardo Mónica

Maio 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Lenda da Sopa da Pedra



A Sopa da Pedra é uma especialidade de Almeirim. Conta-se que o primeiro homem a fazê – lo foi um frade lambareiro e espertalhão…

Um frade andava no peditório. Chegou à porta de um lavrador, mas não lhe quiseram ai dar nada. O frade estava a cair de fome e disse:

- Vou ver se faço um caldinho de pedra.


E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, como para ver se era boa para um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança. Diz o frade:


- Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.


Responderam-lhe:


Sempre queremos ver isso.


Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, pediu:


- Se me emprestassem ai um pucarinho…


Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.


- Agora, se me deixassem estar a panelinha ai, ao pé das brasas…


Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:


- Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava a primor!


Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via.


O frade, provando o caldo:


- Está um nadinha insosso. Bem precisa duma pedrinha de sal.


Também lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:


-Agora é que, com uns olhinhos de couve, ficava que ate os anjos o comeriam.


A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves. O frade limpou-as e ripou-as com os dedos e deitou as folhas na panela. Quando os olhos já estavam aferventados, arriscou:


- Aí! Um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça!


Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço. Ele pô-lo na panela e, enquanto se cozia, tirou do alforge pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo.


Comeu e lambeu o beiço.


Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo.


A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:


- Ó senhor frade, então a pedra?


- A pedra… lavo-a e levo-a comigo para outra vez




A Dança Popular



A dança, a música ou qualquer outro aspecto de cultura, não se pode apresentar numa forma definitiva, pois os termos culturais, eruditos e tradicionais, são pressionados por uma constante consequência da verdadeira dinâmica social onde se desenvolvem.


Eles não podem deixar de obedecer aos fenómenos do seu tempo, devendo ter sempre a verdadeira expressão que pode traduzir a personalidade, as características do seu solo, o clima, a zona geográfica e o produto da comunidade que a recebeu e a recriou a seu gosto.


Diz o folclorista Jorge Dias “ o povo canta aquilo que ouve cantar e apodera-se, imediatamente, do que chega de novo e lhe dá fala à alma”.


O folclore, no dizer de Alves Redol “é a retenção de tudo o que o povo conserva do passado e cria no presente, dando este as tradições de amanha, num enquadramento que afirmara a presença constante da inventiva popular e do seu espírito criativo”.


Dada a sua situação geográfica, no coração de Ribatejo, e pelo facto de possuir uma agricultura desenvolvida, com larga predominância para a vinha, Almeirim, por falta de mão-de-obra local suficiente, recebia, todos os anos, trabalhadores vindos de outras regiões de Portugal, nomeadamente da Beira Baixa, Beira Litoral e Alentejo.


A vinda desses trabalhadores até nós, em períodos de ponta, provocou, naturalmente, o aparecimento de danças e musicas que foram, pouco a pouco, ficando integradas no espírito das gentes de outras origens e possuidores de outros hábitos, facilitaram o intercâmbio, por via popular, de outros tipos de cultura.


Por outro lado, não nos podemos alhear, também, da influência de factores de ordem estrangeira no campo da música e da dança que foram divulgados por grupos musicais, filarmónicas, tocadores de bailes que, através da sua acção de músicos ambulantes, com as suas interpretações, deixaram ficar a semente de novas melodias populares que, conhecidas nas cidades e lugares maiores, passaram para as zonas rurais, onde lhes foram integradas todas as características campesinas.


Por exemplo, a polca deu origem às modas de roda; da valsa alemã derivaram muitos viras, a mazurca, em cujos compassos assenta tradicional moda a dois passos, etc.


Almeirim fica situada na planície batida pelo sol forte, em pleno vale do Tejo.


As suas danças são rápidas, vivas e vigorosas de acordo com o temperamento das gentes da borda d` água, mas no entanto, não perde a melodia que lhe vem do contacto com o Tejo, de cujas margens irradia a frescura e o ritmo das águas a deslizarem para o mar.


A dança é uma forma de expressão popular em que está retratada a identidade de um povo, tal como os trajos, as musicas, a maneira de dançar, levantando os braços ao ar “como arcos de arraial”, ou simplesmente para dançar o fandango, fincando os polegares nas cavas do colete e marcando apenas com as pernas, num jeito peculiar, as peças de inspiração.


A identidade dos povos não se pode dissociar das primeiras reacções criativas do homem. O ritmo que imprimiu ao seu primeiro gesto, quando descobriu a mão e se fez a ele próprio, dando-lhe a capacidade de produzir e realizar.


Fazendo um percurso à volta do mundo com a imaginação e pelo que nos tem sido dado observar através dos modernos meios de informação audiovisual, verifica-se que a dança, a linguagem, os próprios ritmos continuam firmemente a merecer o amor de quem os pratica e luta pela conservação da sua identidade, mesmo correndo o perigo das formas de cultura que, todos os dias, invade e se infiltra nas sociedades actuais.

Praça de Toiros



Desde sempre com grandes tradições taurinas. Almeirim viu ser construída, em terrenos que pertencem á Quinta da Alorna, uma praça de toiros em madeira com capacidade para 3000 pessoas. Tendo sido inaugurada em 22 de Outubro de 1938 foi palco de várias corridas, demolida mais tarde para dar lugar a uma moderna construção com excelentes condições não só para os artistas mas também para o público aficionado.


Fazendo parte do património cultural da nossa terra, a praça de toiros como a conhecemos hoje foi inaugurada a 16 de Maio de 1954 por iniciativa de vários aficionados almeirinenses representados por Manuel Laudácias, D. Luis de Margaride e Teodoro Prudêncio da Silva Santos, com lotação para 6700 espectadores. O projecto ficou a cargo do arquitecto António Mendes e a construção do engenheiro Manuel José Baptista.

Melão de Almeirim, filho de Alpiarça




Embora tenha a designação de "melão de Almeirim", este maravilhoso fruto é cultivado e produzido na sua maioria pelos seareiros de melão de Alpiarça que se deslocam há décadas para os campos do Vale do Tejo.




As primeiras sementes de melão que se conheciam nos anos 50-60 eram a do chamado “cotim à militar”. Esta era um fruto cinzento de qualidade precoce, mas que se aguentava pouco tempo depois de apanhado. Ao longo dos anos foram aparecendo várias espécies de melão, como o casca de carvalho ou o melão preto, fruto bem apresentável e saboroso que se aguentava mais tempo nas pargas debaixo dos sombreiros, e mais rijo para os mercados. Tinha que haver muito cuidado com esta espécie porque com temperaturas altas queimava-lhe a pele (ficava chapado) e perdia valor comercial. Tinha que ser tapado com palha de arroz para evitar essa queima. Este tipo de melão ainda predomina. Apareceram também os melões dos “Seareiros de Alpiarça”, os “Saturninos”, o “Doiradinho”, o “Pêro”, o “Bicha-Gata” e o “Manuel António”. Este último foi e continua a ser uma qualidade de excelência. Manuel António foi um produtor de melão que ao longo dos anos seleccionou e revolucionou a produção deste fruto. Era e é um melão dourado e alinhavado com muito boa apresentação comercial. Também este e outros atrás citados tinham que ser tapados quando havia temperaturas altas. Nos anos 70 começa-se a produzir o melão branco. De início houve dificuldade na entrada deste tipo nos mercados, mas a pouco e pouco penetrou bem na produção e comercialização. Além de ser uma espécie bem apresentável e de boa finalidade, tem também uma grande virtude que é a de não se queimar (chapar), uma vez que os raios solares são “sacudidos” pela brancura do melão. Uma outra espécie deste fruto é o chamado “Pele-de-Sapo”, que juntamente com o melão branco são hoje os mais apresentados no mercado. Conhecido como “melão de Almeirim”, este ribatejano fruto é, como se disse, cultivado e produzido na sua maioria pelos seareiros de melão de Alpiarça. Estes deslocam-se todos os anos para os campos do Vale do Tejo, como de Valada do Ribatejo, Azambuja e Vila Franca de Xira, para se instalar em terras arrendadas. Desde os anos 50 até aos anos 80 essa deslocação era mais acanhada, na medida em que os transportes eram ainda pouco significativos. Centenas, senão milhares de famílias, partiam de Alpiarça levando consigo a chamada “tralha”, o que queria dizer uma autêntica casa mudada. Hoje as coisas são totalmente diferentes, com os avanos das novas tecnologias como o emprego do plástico, a fita de rega de gota-a-gota, mecanização moderna e transportes adequados.



A Vinha

De Fevereiro a Março metia-se Bacelo, que podia ser de 3 maneiras:

Rabazoiro – Grupo de 4 pessoas que trabalhavam em diagonal (para não se cortarem).

Cada um dava 2 enxadadas de lado da fundura da cintura.

Nesga - Um homem para cada duas enxadadas. Trabalhava uma e deixava outra.

Uma mais funda para o Bacelo e outra para o vão.

Também trabalhavam em diagonal.

Manta – a terra era trabalhada toda à fundura, aqui, trabalhando já os homens lado a lado.

O Bacelo era metido pelos homens sendo a terra “apintalhada” (marcar com estacas, pintalhas, para delimitar o terreno), marcada com a ajuda de umas correntes.

Enxertia – De Fevereiro a Março, só alguns homens é que sabiam fazer este trabalho.

O processo é o mesmo que se usa hoje. Vêm atrás homens e mulheres a arrasar a enxertia.

Poda – (Poda à primeira vista, de Novembro a Fevereiro – 1º ano. À segunda vista – 2º ano). Consiste em tirar os “ladrões” (tirar rebentos prejudiciais às plantas) e deixar os talões com dois ou três olhos (poda em, redondo).

Dantes, quase todos os homens podavam.

Cava – consiste em cavar o vão todo com uma enxadada funda, ficando a erva toda para baixo.

Raspar – trabalho de homens e mulheres que endireitavam a terra e tiravam as ervas.

Cura – de Abril a Junho, pulverizava – se a cepa com sulfato de cobre, cal e agua, utilizando os pulverizadores ou como em linguagem local eram conhecidos pelos “ improvisadores”

Depois desta tarefa utilizava – se o enxofre puro.

O número de curas dependia dos anos e das doenças da vinha.

Este trabalho era feito por homens.

Durante o dia, enquanto duravam estes trabalhos da cura, ouvia-se de vez em quando, as vozes dos homens, pedindo agua aos seus ajudantes. Então a voz era sonora, aguda, utilizando-se a palavra de maneira a ficar mais fácil para ser gritada.

Acentuavam a palavra na primeira letra e depois saia o grito: Áaaaaaaaaauuuga.